terça-feira, 24 de julho de 2012


O amor nunca morre de morte natural

O amor nunca morre de morte natural. Anaïs Nïn estava certa.
Morre porque o matamos ou o deixamos morrer.
Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença.
Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia.
Mortes sem sangramento. Lavadas. Com os ossos e as lembranças deslocados.
O amor não morre de velhice, em paz com a cama e com a fortuna dos dedos.
Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento.
O amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade. Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida.
O fim do amor não será suicídio. O amor é sempre homicídio. A boca estará estranhamente carregada.
Repassei os olhos pelos meus namoros e casamentos. Permiti que o amor morresse. Eu o vi indo para o mar de noite e não socorri. Eu vi que ele poderia escorregar dos andares da memória e não apressei o corrimão. Não avisei o amor no primeiro sinal de fraqueza. No primeiro acidente. Aceitei que desmoronasse, não levantei as ruínas sobre o passado. Fui orgulhoso e não me arrependi. Meu orgulho não salvou ninguém. O orgulho não salva, o orgulho coleciona mortos.
No mínimo, merecia ser incriminado por omissão.
Mas talvez eu tenha matado meus amores. Seja um serial killer. Perigoso, silencioso, como todos os amantes, com aparência inofensiva de balconista. Fiz da dor uma alegria quando não restava alegria.
Mato; não confesso e repito os rituais. Escondo o corpo dela em meu próprio corpo. Durmo suando frio e disfarço que foi um pesadelo. Desfaço as pistas e suspeitas assim que termino o relacionamento. Queimo o que fui. E recomeço, com a certeza de que não houve testemunhas.
Mato porque não tolero o contraponto. A divergência. Mato porque ela conheceu meu lado escuro e estou envergonhado. Mato e mudo de personalidade, ao invés de conviver com minhas personalidades inacabadas e falhas.
Mato porque aguardava o elogio e recebia de volta a verdade.
O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem recuar. O amor é a boca suja. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua casa. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever.
O amor é sempre assassinado. Para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela.

A sobra é o mesmo que a falta

Eu amo desorganizado, desvergonhado. Tenho um amor que não é fácil de compreender porque é confuso. Não controlo, não planejo, não guardo para o mês seguinte. A confusão é quase uma solidão adicional. Uma solidão emprestada. Sou daqueles que pedirá desculpa por algo que o outro nem chegou a entender, que mandará nova carta para redimir uma mágoa inventada, que estará se cobrando antes de dizer. Basta alguém me odiar que me solidarizo ao ódio. Quisera resistir mais. Mas eu faço comigo a minha pior vingança. Amar demais é o mesmo que não amar. A sobra é o mesmo que a falta. Desejava encontrar no mundo um amor igual ao meu. Se não suporto o meu próprio amor, como exigir isso? Um dia li uma frase de Hegel: “Nada de grande se faz sem paixão”. Mas nada de pequeno se faz sem amor. (…) Não me dou paz sequer um segundo. Medo imenso de perder as amizades, de apertar demais as palavras e estragar o suco, de ser violento com a respiração e virar asma. Até a minha insegurança é amor.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Dê a volta por cima já!

Banho emergencial de autoconfiança
Prevenir-se de todas as possíveis ciladas do destino, você sabe, é impossível. Mas, se estiver bem preparada para reagir com firmeza e ponderação, pode apostar, conseguirá se levantar sem maiores arranhões. A palestrante motivacional Christine Hassler, ex-agente de atores de Hollywood, dá as pistas para desenvolver um extintor de incêndios interno e poderoso.

Mais decidida
"Tente não pedir o conselho de ninguém - nem para resolver uma questão no trabalho nem para escolher um prato no restaurante - durante uma semana", ensina Christine. "Assim, vai entrar em contato com a sua capacidade de ser assertiva."

Mais corajosa
"Mesmo que seja para uma cidade próxima, embarque em uma viagem solo no fim de semana", sugere. "Você estará fora da sua zona de conforto e poderá testar seus limites, sua capacidade de se virar sozinha."

Mais ousada
"Procure eliminar aquela vozinha interior que diz sem parar: 'E se...' Nem todas as decisões desencadeiam um efeito dominó no futuro", acrescenta. Arrisque mais e viva mais.

Mais sábia
"Você fará escolhas melhores se seguir a sua intuição", garante Christine. "Preste atenção nos sinais que seu corpo dá e entre em contato com suas emoções para se fortalecer."

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Imprensa livre, imparcial e objetiva existe?



Muito se fala a falta de independência e imparcialidade da mídia, muito vista na imprensa nos dias atuais. Os leitores, sensatos e mais convencionais, parecem acreditar de verdade na possibilidade de imprensa livre, autônoma, imparcial e objetiva. Não há, e, possivelmente, jamais haverá imprensa inteiramente independente e imparcial. O que alguns buscam na verdade, é o máximo de objetividade, nem sempre sustentada na informação de que a objetividade é relativa e moldada por um olhar ideológico ou por uma percepção mediada por interesses. Não existe fatos crus, apresentados sem interpretação e sem vieses, mas o respeito aos fatos é crucial. O que se exige é um terreno mínimo ou comum, baseado em parâmetros admitidos pela maioria, ao se apresentar as ideias-verdades dos grupos políticos, econômicos, sociais e culturais. A isso chamam "imparcialidade”, o que nesse sentido que o filósofo Max Weber afirmou que "neutro é quem já se decidiu pelo mais forte".

A ideia de uma imprensa não-partidária, ou seja, que não se posicione politicamente é um juízo de valor oriundo do jornalismo, no qual o posicionamento político é natural e necessário. A imparcialidade, deste ponto de vista, só pode ser alcançado se o jornalismo não for encarado com dois pesos e duas medidas.